COVID-19 – Alterações Morfológicas das Células sanguíneas

Tradução na íntegra do Artigo:

Zini G, Bellesi S, Ramundo F, d’Onofrio G., Morphological anomalies of circulating blood cells in COVID-19. Am J Hematol. 2020;1–3.

Anormalidades hematológicas quantitativas tem sido descritas no primeiro Estudo de Paciente de COVID-19, a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, atualmente responsável por uma infecção mundial de pandemia de rápida disseminação, com alta taxa de mortalidade. Em casos severos, a doença progride, através de fases subsequentes, de uma infecção do trato respiratório superior com sintomas locais e gerais da gripe a uma pneumonia viral e reação hiperinflamatória do hospedeiro, o que leva ao desconforto respiratório agudo e à falência de múltiplos órgãos. Os achados hematológicos mais comuns incluem linfocitopenia, neutrofilia, eosinopenia, trombocitopenia leve (35%) ou, com menor frequência, trombocitose. A presença de linfócitos reativos atípicos foi apenas ocasionalmente relatada. Em um relatório recente da Califórnia, foi observado um leve quadro leuco-eritroblástico no esfregaço de sangue periférico.

A Itália foi e ainda é severamente afetada pela epidemia. Na “Fondazione Policlinico A. Gemelli”, de Roma, foi criado um hospital paralelo para prestar assistência a pacientes do COVID-19, da região do Lazio e da Itália central. Tivemos até 249 pacientes com COVID-19 admitidos em 25 de março de 2020. Após a observação microscópica de esfregaços de sangue periférico dos primeiros 40 casos na admissão, quando o tratamento antiviral e anti-inflamatório ainda não havia sido administrado, observamos a presença de anormalidades morfológicas marcantes da linhagem de neutrófilos. A morfologia plaquetária também mostrou anomalias peculiares e frequentes, principalmente com plaquetas muito grandes, geralmente hipercromáticas, com áreas periféricas de tamanho diferente, não raramente se projetando nas formações de pseudópodes (Imagem L). Isso ocorreu tanto em pacientes com trombocitose (quatro casos com contagem de 503-629 × 10⁹ / L) e naqueles com trombocitopenia (66-93 × 10⁹ / L). Os parâmetros quantitativos do hemograma (CBC) foram heterogêneos e se sobrepuseram à maioria dos resultados da literatura.

A – Granulócitos neutrófilos com pseudo-pelger (não-segmentado); B – granulócitos neutrófilos com lóbulo não segmentado com cromatina grosseiramente aglomerada; C – neutrófilo não-segmentado hipergranular com múltiplos vacúolos; D – granulócito neutrófilo com acentuada hipogranularidade.

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A contagem absoluta de neutrófilos aumentou com frequência nos primeiros dias após a admissão (> 5 x 10⁹ / L em 14/40 casos), antes ou logo após o início do tratamento, com tendência a diminuir uma semana depois (1,48-3,23 x10⁹ / L), em sete casos de acompanhamento). Suas anormalidades morfológicas diziam respeito à granulação nuclear e citoplasmática (Imagem A-D). Em particular, destacamos a presença de muitas granulações escuras e aglomeradas no citoplasma (semelhantes aos grânulos “tóxicos”) e de áreas agranulares periféricas em azul claro. Em uma minoria de casos, a hipogranularidade citoplasmática foi muito frequente. Anormalidades na forma nuclear foram impressionantes, com maior frequência de formas de bastões, mas também de células dismórficas com total ausência de segmentação nuclear, consistente com a morfologia do pseudo-Pelger. As células apoptóticas foram facilmente encontradas em muitos esfregaços de sangue periférico (Imagem H-J). Eles apareceram com cromatina nuclear liquefeita e citoplasma granulado ou azul profundo, sugerindo possível derivação de diferentes tipos de células (isto é, neutrófilos e linfócitos, respectivamente). Granulócitos imaturos, principalmente pequenos mielócitos e metamielócitos, também estavam frequentemente presentes em casos de fase inicial (Imagem E), conforme descrito recentemente. Ocasionalmente, mais células imaturas, às vezes mostrando núcleos imaturos e pequenos grânulos azurofílicos (Imagem F, G). Usando a reação citoquímica automatizada para mieloperoxidase, fornecida pelo contador de células sanguíneas ADVIA 2120 (Siemens, Milão, Itália), em dois dos 40 casos no diagnóstico, a população de neutrófilos mostrou uma diminuição acentuada da atividade da peroxidase (Imagem 2), com mieloperoxidase índice de -10,4 e -14,4, respectivamente (intervalo normal do fabricante ± 10).

E – Pequeno Mielócito neutrófilo circulante;  F – Promielócito displásico circulante (grânulos azurófilos espalhados e ausência de Zona de Golgi); G – Célula imatura circulante com cromatina reticular semelhante a blasto e com raros grânulos finos azurófilos; H – Granulócito não segmentado com cromatina nuclear hipercrômica e citoplasma fortemente condensado, provavelmente pré-apoptótico.

Em sete pacientes, as amostras de sangue periférico foram re-observadas após 5 a 7 dias de tratamento antiviral e anti-inflamatório. As alterações morfológicas dos neutrófilos acima descritas desapareceram quase completamente e a população de linfócitos mostrou ampla heterogeneidade morfológica com grandes linfócitos atípicos (Imagem K), células linfoplasmacitóides e proporção aumentada de linfócitos granulares grandes. O tratamento compreendeu produtos antivirais, anti-inflamatórios e anti-interleucina 6.

I – Neutrófilo  apoptótico circulante; J – célula apoptótica com citoplasma azul, de possível origem linfocitária; K – Linfócito reativo poliploide grande com citoplasma hiperbasofílico; L – plaquetas vacuoladas gigantes.

Em resumo, nosso objetivo é apontar que diferentes alterações morfológicas celulares podem ser vistas nas fases subsequentes do COVID-19. Em particular, na fase inicial do agravamento dos sintomas, geralmente coincidindo com a admissão hospitalar, uma reação granulocítica pronunciada com imaturidade, dismorfismo e morfologia apoptótica-degenerativa foi evidente no sangue periférico. Após vários dias de tratamento, o quadro hematológico tende a mudar para uma impressionante ativação linfocitária, geralmente com aumento numérico e expressão morfológica heterogênea.

Deficiência parcial de mieloperoxidase (MPO) em um paciente com neutrófilos dismórficos (o mesmo que na Figura A). A população de neutrófilos (sinais roxos) no diagrama de dispersão ADVIA 2120 é deslocada para a esquerda, invadindo parcialmente a área de monócitos (sinais verdes), que determina um falso aumento da porcentagem de monócitos. Dados quantitativos: leucócitos 2,78 × 109 / L, neutrófilos 1,29 × 10⁹ / L, monócitos 0,89 × 10⁹ / L (incluindo falsamente uma fração de neutrófilos com deficiência de MPO), linfócitos 0,41 × 10⁹ / L, células grandes não coradas (LUC) 0,19 × 10⁹ / L.

Essas anormalidades destacam principalmente a perturbação grave, transitória e reversível da mielopoiese, especialmente na forma de granulopoiese acelerada e desordenada, em pacientes com COVID-19 em fase sintomática grave. De acordo com atualizações recentes, essas anormalidades quantitativas e qualitativas podem estar relacionadas à tempestade de citocinas e à hiperinflamação, que é um fator patogênico fundamental na evolução da pneumonia por COVID-19. Possivelmente, isso está na forma de linfo-histiocitose hemofagocítica secundária, levando a uma falência múltipla de órgãos muitas vezes fatal. Nossa observação preliminar poderia, portanto, exigir mais estudos sobre o envolvimento da mielopoiese na patogênese e evolução do COVID-19.

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METAMIELÓCITO, BASTONETE OU SEGMENTADO?

Olá Colegas Analistas Clínicos!!!

O questionamento colocado no título desse Post ainda é muito comum entre vários colegas quando analisam morfologicamente as células da linhagem granulocítica em um esfregaço sanguíneo.

Iremos aproveitar um dos Casos Clínicos colocados na “II Semana do HEMOGRAMA Para INICIANTES”, Evento Online organizado pelo LAB Prática, para mostrarmos como essa dúvida ainda é muito frequente em nossa classe. Separamos os gráficos das respostas dos Participantes do Evento, destes leucócitos para analisarmos o percentual de discordância das respostas. Salientamos que estes Casos disponibilizados neste Evento são Casos simples, somente com leucócitos que são encontrados no sangue periférico NORMAL.

Ao final da análise, veja o vídeo percorrendo uma lâmina com estas células, onde comentamos os detalhes da morfologia.

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Inicialmente, analisando o gráfico abaixo, referente a quantidade de “metamielócitos” observados na Contagem Diferencial de Leucócitos do Caso 1, dos participantes que responderam a questão, 55,6% acertaram, destacado na cor verde, enquanto 44,4% erraram (cor cinza).

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Seguindo a análise, o próximo gráfico se refere a quantidade de neutrófilos bastões, onde podemos ver que apenas 27,8% acertaram, e 72,2% erraram.

E continuando, no gráfico abaixo, referente aos neutrófilos segmentados, tivemos um percentual de acerto de 33,3%, enquanto que 66,7% dos participantes erraram a questão.

Análise dos Gráficos

Podemos ver que em relação a quantidade de metamielócitos, mais da metade acertou, porém a resposta era “0”. Esse Caso não tinha nenhum metamielócito. Mesmo assim, quase metade dos participantes consideraram algum bastão, ou monócito, (acreditamos que seja pelo formato do núcleo, pois o citoplasma é bem diferente) como metamielócito.

No segundo gráfico podemos ver que menos de um terço dos participantes acertaram a quantidade de bastões, que era apenas 1, enquanto que a grande maioria considerou uma quantidade maior destas células. Muitos ainda tem dúvidas quando o neutrófilo já iniciou o processo de clivação, e apresenta a cromatina mais condensada, e que deve ser considerado um segmentado.

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E é justamente isso que nos mostra o terceiro gráfico, em relação às respostas sobre o Segmentado, onde exatamente dois terços (2/3) dos participantes erraram, o que é uma consequência do erro em relação aos bastões, já que o Segmentado clássico é um leucócito muito fácil de definir, aqueles que geram um pouco de dúvida se é bastão ou não, quando são contados como tal, reduzem o número de segmentados.

No vídeo abaixo mostramos na prática, na lâmina de um hemograma o porquê dessa dúvida dos colegas. Veja:

Esperamos ter contribuído para esclarecer essa grande questão em relação à Análise morfológica dos neutrófilos.

Um grande abraço! Até o próximo!

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