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TEORIA HEMATOLÓGICA DESCOMPLICADA – ANEMIA NA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

Por: Válber Matias e Humberto Medeiros

Anemia é uma complicação frequentemente observada em pacientes com insuficiência renal crônica (IRC), e seu principal mecanismo é a diminuição da produção de eritropoetina decorrente da perda da função renal, resultando em um processo anêmico hipoproliferativo.

Além disso, o tempo de vida do eritrócito encontra-se reduzido nessa doença, e a uremia que acompanha o quadro suprime a atividade hematopoiética e causa disfunção plaquetária, o que propicia a ocorrência de sangramentos e ferropenia, intensificando anemia. Perda de sangue em pequenas quantidades são também frequentes inerentes ao procedimento de hemodiálise. Outros fatores que também podem contribuir para anemia na IRC são a insuficiência de ácido fólico, intoxicação por alumínio, hipoparatireoidismo, hemólise e aumento do volume plasmático (hemodiluição).

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A intensidade do processo anêmico nessa condição geralmente se correlaciona com a gravidade da disfunção renal, embora possa ocorrer mesmo nos quadros modestos.

No hemograma, a anemia é característicamente normocítica e normocrômica, os valores de hemoglobina se encontram variando entre 5,0 e 10,0 mg/dL. No esfregaço sanguíneo notam-se frequentes equinócitos, além de alguns acantócitos e esquizócitos. Em geral não há alterações das séries brancas e planetárias.

O tratamento com eritropoetina pode corrigir a anemia na maioria dos casos.

talassemias

Por: Válber de Freitas Matias

TEORIA HEMATOLÓGICA DESCOMPLICADA

TALASSEMIAS

As Talassemias são doenças genéticas e hereditárias. São transmitidas de um ou ambos os pais para os filhos. Por se tratar de doença muito comum nos países banhados pelo mar Mediterrâneo, a maior prevalência na população brasileira ocorre nos descendentes de imigrantes italianos, portugueses, espanhóis e árabes.

Nas Talassemias, a anemia ocorre porque há diminuição ou ausência da produção de globina, alfa ou beta, que são as proteínas (fração protéica) que compõem a hemoglobina. O desequilíbrio entre as globinas ausentes e aquelas que estão presentes podem levar à deformação dos glóbulos vermelhos. Os principais tipos de talassemias são as talassemias alfa e beta, causadas respectivamente, pela diminuição ou ausência da produção das globinas alfa e beta.

Ambas as talassemias apresentam formas leves imperceptíveis, até formas graves e potencialmente fatais. As formas, chamadas de talassemias mínima ou menor, são muito frequentes na população e geralmente ocorrem quando a pessoa herda o defeito genético de apenas um dos pais. Nesses indivíduos, a talassemia não interfere com a saúde, nem necessita de tratamento.

Por outro lado, pacientes que herdam os defeitos genéticos de ambos os pais, podem apresentar as formas mais graves, como a talassemia Beta maior que se caracteriza por anemia intensa com necessidade de transfusões de sangue regulares a cada quatro semanas em média, a partir da infância e por toda a vida. Além disso, os pacientes também fazem um tratamento especial para retirar o ferro em excesso do organismo.

Sempre que houver suspeita clínica ou laboratorial de talassemia, deve-se fazer um exame de sangue específico, conhecido por Eletroforese de Hemoglobinas, para confirmação do diagnóstico.

Pessoas sabidamente portadoras de talassemias, e que desejam ter filhos, deve orientar o parceiro ou a parceira para fazer a pesquisa da talassemia e / ou outras formas de anemias hereditárias, para avaliar o risco de herança da doença dos filhos.

Apresentação de Caso Clínico

Apresentação de Caso Clínico

Paciente do sexo Feminino, 66 anos de idade, foi atendida há aproximadamente 2 meses no Hospital Geral, com sangramento pelo reto. Realizou hemograma, com hemoglobina de 5,7 g/dL, anemia por perda, microcítica/hipocrômica. Fez uma colonoscopia e cauterização. Parou de sangrar.

Agora, foi atendida em nosso serviço, para avaliação do tratamento com Noripurum, realizado por conta da anemia por perda.

Abaixo, as imagens do Hemograma (Aparelho de Hematologia e microscopia):

Na realização do hemograma contamos 17 células com as características das imagens, que descrevemos assim: 

Células linfóides pequenas, com núcleo excêntrico, cromatina menos densa, com citoplasma abundante (maioria), com discreta basofilia e halo perinuclear (células plasmocitóides).

Também fizemos a observação da presença do Rouleaux eritrocitário.

 

Diante do hemograma que liberamos, o hematologista resolveu colher um mielograma.

 

Abaixo as imagens do Mielograma:

E novamente chegamos à conclusão deste caso de Mieloma múltiplo, como vocês podem ver nas imagens da medula repleta de plasmócitos, inclusive em ninhos, numa paciente sem sintomas específicos da doença, que descobriu precocemente devido o acompanhamento de tratamento de outro problema, onde o achado principal encontrado no hemograma foi o Rouleaux eritrocitário acompanhado de linfócitos plasmocitóides.

Até o próximo caso!

Critérios de Revisão de Lâminas – Exemplo de Exceção

OLÁ PESSOAL DO LABORATÓRIO!!!

Neste nosso simples Post de hoje, queremos mostrar a importância da Revisão de Lâminas de hemogramas.

Sabemos que a grande demanda de exames, aliada às tecnologias de ponta, que estão surgindo no mundo laboratorial para aumentar a produtividade, faz com que procuremos cada dia mais utilizarmos artifícios que nos possibilitem realizarmos maior número de exames, com menor número de profissionais, e em menor espaço de tempo.

E com vários Equipamentos de Hematologia, muito precisos e confiáveis, (diga-se de passagem), somados a critérios que mostram alterações tanto quantitativas, como qualitativas, que indicam os casos em que a lâmina deve ser revisada.

Várias entidades científicas do ramo tem dedicado estudos para validar esta ferramenta no âmbito laboratorial. Mas, lembramos que o recomendado é que cada laboratório estabeleça seus critérios baseados em sua população, em sua clientela, para nortear esta forma de trabalho.

Diante do acima exposto, na imagem abaixo temos o resultado de um hemograma (laudo do equipamento).

Se você trabalha com uma grande quantidade de hemogramas diários, usando algum critério de revisão de lâminas, após analisar o laudo emitido pelo Equipamento, com sinceridade, responda esta questão:

Você revisaria esta lâmina? Por que?

 

Para enriquecer a nossa interação, deixe sua resposta e comentários, no espaço lá no fim do Post. Isto irá contribuir bastante para a experiência prática de todos nós, Analistas Clínicos.

Nós trabalhamos com pacientes hematológicos, e por isso revisamos 100% dos nossos hemogramas. E sabemos que nem sempre isso é possível. Também não temos o objetivo de criticar e menosprezar o trabalho de quem utiliza os Critérios de Revisão para filtrar os hemogramas que devem ter suas lâminas revisadas. Afinal, nós mesmos trabalhamos em outro serviço, que somos obrigados a utilizar esta ferramenta. E acreditamos que fazemos um trabalho de qualidade, pois mesmo utilizando critérios, já identificamos vários casos hematológicos interessantes.

E como pedimos sinceridade a vocês na resposta do questionamento acima, também somos obrigados a responder da mesma forma. E, neste caso, provavelmente teríamos liberado este hemograma, sem revisar a lâmina.

Abaixo, mostramos imagens do esfregaço sanguíneo deste caso.

Como podemos ver, uma grande presença de eliptócitos no hemograma deste paciente. Trata-se de um caso de Eliptocitose Hereditária, em paciente normal. Como podemos ver no laudo do equipamento, este não emitiu nenhum “flag” que pudesse chamar atenção para isto.

Com certeza, muitos de nós poderíamos liberar este hemograma sem revisar a lâmina, e consequentemente, este sairia sem a observação desta morfologia eritrocitária. E em outro momento, por vários motivos, este paciente iria realizar novo hemograma em outro laboratório, ou no mesmo, quem sabe, que poderia ter a revisão de lâmina e vir com esta observação. Quando comparado com este, o médico poderia questionar, o porquê de não se ter visto esta alteração morfológica antes. E, dependendo do caso, isto pode manchar a credibilidade do laboratório com o médico solicitante.

Então, o nosso intuito aqui neste post é exclusivamente mostrar que mesmo com todo cuidado no Laboratório, com equipamentos de última geração, utilizando as melhores ferramentas que o avanço da qualidade nos oferece, ainda estamos sujeitos a liberar algum hemograma que pode ser questionável.

E chegamos ao fim de mais um post, deixando esta “pulga atrás da orelha”, que faz com que tenhamos cautela no nosso dia-à-dia no Laboratório, não para dificultar o nosso Ofício, mas para buscarmos sempre nos atualizar, e observarmos sempre os detalhes, que podem fazer a diferença na qualidade do serviço que prestamos à sociedade.

Anemia Falciforme – Estudo microscópico

Neste Vídeo, temos um breve estudo microscópico, percorrendo a lâmina de um hemograma de paciente de Anemia Falciforme.

Apesar de curto, mas vocês podem ver em detalhes, as características, os achados microscópicos que costumamos encontrar em casos desta Patologia.

Aproveitem! Assistam!

No Laboratório Todo Cuidado é Pouco

Olá Pessoal do Laboratório!

Olá Caros Colegas Analistas Clínicos!

 

No Laboratório é tanta coisa que temos pra fazer que já estamos tão acostumados a fazer as atividades no “piloto automático“.

E, com isso, temos a ciência que estamos passíveis de executar e/ou liberar algum resultado equivocado, mesmo que tecnicamente correto, porém um produto final errado.

O que vou relatar agora aconteceu esta semana, e serve de alerta para que estejamos cada vez mais cientes de que NO LABORATÓRIO: TODO CUIDADO É POUCO.

Abaixo mostro o resultado de um hemograma que fiz no meu último plantão, vejam os valores:

Vocês podem ver, que este hemograma está alterado na série vermelha e plaquetas, mas neste hospital onde faço plantão atendemos pacientes internos que na maioria das vezes tem resultados como este ou até piores. Então, sempre liberamos exames assim, diariamente, normalmente. Conferimos a lâmina com o laudo do aparelho, fazemos a leitura, contagem diferencial de leucócitos, observações em geral, e liberamos, sem pestanejar.

Mas, neste exame, em específico, me deu uma curiosidade de saber a patologia, e fui procurar a requisição, quando vi, era uma paciente do pronto-atendimento, ou seja, não era interna. E a suspeita de ITU (infecção do trato urinário). Aí que eu fiquei curioso. Como essa anemia, com essa suspeita? Não que não pudesse ser. Afinal era apenas suspeita. Mas algo estava errado. E fui fazer o trabalho de “Sherlock Holmes”.

Procurei a coletadora, e de primeira consegui encontrar a raiz do problema. A mesma havia colhido no braço que a paciente tinha um soro sendo administrado. O soro estava sendo injetado na mão, e ela colheu no braço. Achou que não tinha problema.

Pedi pra ela fazer nova coleta, e vocês verão à seguir os tubos das 2 coletas, e o laudo da outra coleta.

Abaixo temos a imagem dos 2 tubos, da mesma paciente: o 1º, mais claro (ralo), e o mais concentrado da 2ª coleta:

Abaixo temos o laudo da segunda amostra:

Então pessoal, como vocês podem ver, nas imagens das amostras e dos laudos, antes e depois, por pouco eu não liberei um resultado que TECNICAMENTE estava correto, pois o que estava vendo na lâmina estava de acordo com a amostra da paciente. Mas, completamente ERRADO porque aquela amostra não representa o real estado hematológico dela. A amostra estava muito diluída pelo soro que estava sendo administrado. Um erro na fase PRÉ-ANALÍTICA.

E a profissional que fez a coleta ainda chegou colocando a culpa no garotinho da paciente que estava chorando, dizendo que ele a havia desconcentrado no momento da primeira coleta.

Isso nos mostra que NO LABORATÓRIO, TODO CUIDADO É POUCO.

Um abraço Pessoal, espero que tenha servido de aprendizado e experiência pra vocês. Até a próxima!

Paciente Masculino, 56 anos, Anemia a esclarecer

Paciente Masculino,  56 anos, Anemia a esclarecer

WBC = 8,17   10³/uL

RBC = 5,74    10⁶/uL

HGB = 8,80    g/dL

HCT = 33,9   %

VCM = 59,0 fL

HCM = 15,3 pg

CHCM = 26,0 g/dL

RDW = 25,7  %

PLT = 453

Contagem Diferencial: Segmentados = 73%, Linfócitos = 17%, Monócitos = 7%, Eosinófilos = 3%.

Observações:

– Anisocitose (++), Microcitose (+++), Hipocromia (++), algumas células em alvo e dacriócitos;

– Reticulócitos = 4,16% (corrigido)

Paciente Masculino, 04 anos, Anemia a esclarecer, Talassemia?

Paciente Masculino,  04 anos, Anemia a esclarecer, Talassemia?

WBC = 7,34   10³/uL

RBC = 5,19    10⁶/uL

HGB = 8,34    g/dL

HCT = 31,9   %

VCM = 61,4 fL

HCM = 16,1 pg

CHCM = 26,2 g/dL

RDW = 26,7  %

PLT = 315

Contagem Diferencial: Segmentados = 39%, Linfócitos = 46%, Monócitos = 13%, Eosinófilos = 1%, Basófilos = 1%.

Observações:

– 3 Eritroblastos / 100 Leucócitos;

– Algumas células em alvo, dacriócitos, eliptócitos;

– Reticulócitos = 2,8%

Paciente Feminino, 14 anos, Anemia Falciforme.

Paciente Feminino,  14 anos, Anemia Falciforme.

WBC = 15,9   10³/uL

RBC = 2,49    10⁶/uL

HGB = 7,77    g/dL

HCT = 21,3   %

VCM = 85,8 fL

HCM = 31,2 pg

CHCM = 36,4 g/dL

RDW = 20,1  %

PLT = 310

 

Contagem Diferencial: Segmentados = 67%, Linfócitos = 28%, Monócitos = 4%, Eosinófilos = 1%.

Observações:

– 01 Eritroblastos / 100 leucócitos;

– Anisocitose (+), Microcitose (+), Macrocitose (+), Vários drepanócitos e células em alvo;

– Reticulócitos = 14,5% (corrigido)